Os cães e o chocolate
Cães
e gatos alimentados com dieta natural ingerem diariamente uma variedade de
itens que nós humanos também consumimos e que nos fazem bem: frutas frescas,
diversos legumes crus ou cozidos, verduras cruas, carnes e ossos, iogurte
natural, óleos vegetais, leguminosas e cereais cozidos (no caso das dietas com
carboidratos extras), ovos, peixes, levedura de cerveja, alho cru, etc.
Com
critério e bom senso - sempre tendo em vista que cães e gatos não são
“pessoinhas peludas” - os pets podem partilhar de quase tudo da nossa geladeira
e do nosso freezer. Ênfase no “quase tudo”.
Alguns itens devem ser evitados, caso do açúcar, das uvas passas, das bebidas
alcoólicas, do espinafre, das macadâmias, do abacate e das frituras. E há
determinados alimentos que jamais devem
ser oferecidos aos cães ou gatos. São eles: as pimentas, a cebola e o
chocolate.
Esse
artigo, pretende alertar os proprietários sobre os
perigos para os cães da ingestão de chocolates. (Gatos que assaltam ovos de
Páscoa também correm riscos, é que eles tendem a serem menos ávidos por essas
guloseimas em comparação aos caninos.) Confira a pesquisa abaixo e entenda por
que devemos deixar nossos ovos de Páscoa, bombons, barras de chocolate - e até
os achocolatados em pó - bem longe de nossos melhores amigos.
Gostoso para nós, perigoso para eles
Fato
é que os cães são diferentes de nós. Eles podem beber água da privada e até
comer fezes de outros cães e dificilmente essas práticas nojentas os fazem
adoecer. Experimente fazer o mesmo apenas uma vez e você poderá passar
incrivelmente mal. No entanto, bastam algumas dezenas de gramas da nossa
guloseima favorita para levar um cão ao coma e até mesmo à morte.
O
vilão nessa história é um alcalóide derivado do cacau que se chama Teobromina.
Essa substância prima da cafeína (ambas são metilxantinas) apresenta conhecido
efeito diurético, vasodilatador e estimulante do sistema nervoso central e do
coração. E não pense que o Totó precisa engolir um ovo de Páscoa de um quilo
para se intoxicar. Embora a literatura informe que são necessários de 100 a 150
gramas de chocolate por quilo de peso do animal para intoxicá-lo gravemente,
sintomas como taquicardia, excitação, distensão abdominal, espasmos musculares,
vômitos, diarréia, aumento no consumo de água e da temperatura podem surgir com
a ingestão de pouco mais da metade dessa quantidade.
A
Teobromina é rapidamente absorvida após a ingestão e logo começa a estimular o
cérebro e o coração, podendo desencadear arritmias cardíacas no animal. E não
pense que somente o coração e o cérebro saem perdendo. Se o cão resolver atacar
os chocolates, o pâncreas também poderá sofrer com o alto teor de gorduras da
guloseima.
Mas por que o chocolate faz mal para os cães?
O
problema vem da não-metabolização da Teobromina no organismo dos cães e dos
gatos. Nós humanos conseguimos “quebrar” e excretar a Teobromina, de modo que
ela não se acumula no nosso organismo. Nos pets, essa substância se acumula e
rapidamente atinge concentrações tóxicas.
Alguns chocolates são piores que outros
O
teor de Teobromina varia de acordo com o tipo de chocolate. Se estivermos
falando de pós achocolatados, são necessários 600mL de leite com Nescau, Toddy
ou similar para intoxicar gravemente um animal com nove quilos. Confira abaixo
os teores de Teobromina nos diferentes chocolates:
Chocolate
branco: por conter pouquíssimo cacau, apresenta teores vestigiais de
Teobromina, sendo o menos tóxico dos chocolates. Mesmo assim não deve ser
oferecido, uma vez que é rico em açúcar.
Chocolate
ao leite: 100 gramas apresentam 154 miligramas de Teobromina. A dose fatal para
um cão com 6 quilos seriam 350 gramas.
Chocolate
meio amargo: 100 gramas contêm 528 miligramas de Teobromina. A dose fatal para
um cão com 6 quilos seriam 110 gramas.
Chocolate
de culinária (aquele usado em bolos e ovos de Páscoa caseiros): 100 gramas
contêm 1.365 miligramas de Teobromina. A dose fatal para um cão com 6 quilos
seriam meras 35 gramas!
Tratamento
Se
você suspeita que seu cachorro ou bichano tenha ingerido quantidades
consideráveis de chocolate - calma, aquele confete de M&M caído no chão não
conta! - consulte o médico-veterinário. A toxicidade da Teobromina é
dose-dependente. Ou seja, depende do teor de Teobromina no chocolate, da
quantidade de chocolate ingerida e do porte do animal. Os sintomas aparecem de
6 a 12 horas após a ingestão.
O
tratamento da intoxicação por chocolates pode ser complicado. Não existe
antídoto. Dependendo dos sintomas que o animal apresentar e do tempo passado
desde a ingestão, o veterinário poderá fazer uma lavagem gástrica, infundir
fluidos (o “sorinho na veia”) para evitar desidratação por vômitos e/ou
diarréia. E poderá administrar eméticos (fármacos que provocam o vômito),
carvão ativado, anti-convulsivantes (para animais que apresentem convulsões) e
medicações para regular o ritmo cardíaco em caso de arritmias. A meia-vida da
Teobromina no organismo dos pets é de 17 horas. Mas ela pode demorar 24 horas
ou mais para ser eliminada.
Conclusão
Definitivamente,
chocolates e animais de estimação não devem se misturar! Por isso, deixe os
ovos de Páscoa, bombons e barras bem longe do alcance dos pets - lembre-se que
um gato guloso é capaz de escalar um armário para encontrar chocolates.
Evite
oferecer também aqueles “chocolates” próprios para cães, à venda em pet shops.
Esse tipo de guloseima não contém Teobromina, mas acaba apresentando o animal a
sabores e cheiros muito parecidos com os do chocolate “de gente”. E como você
acha que um cão chocólatra se comportará diante de uma cesta de ovinhos de
Páscoa?
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